08 março 2013

MORRE HUGO CHÁVEZ, PRESIDENTE DA VENEZUELA


O presidente Hugo Chávez, que liderou a Venezuela por 14 anos, morreu na tarde de terça-feira (5), aos 58 anos, num hospital militar em Caracas. Ele lutava contra um câncer desde junho de 2011 e após realizar um tratamento em Cuba, havia voltado à Venezuela em fevereiro deste ano.

VIDEO: MORRE HUGO CHÁVEZ - AFP



O vice-presidente Nicolás Maduro, designado pelo próprio Chávez como seu sucessor, foi quem fez o anúncio em um pronunciamento ao vivo na TV estatal. A cúpula das Forças Armadas também se apresentou, logo após Maduro, para jurar respeito à Constituição e lealdade ao vice.

VIDEO: NICOLÁS MADURO ANUNCIA A MORTE DE HUGO CHÁVEZ



Horas antes de anunciar a morte de Chávez, Nicolás Maduro havia feito um discurso na TV, onde acusou os adversários políticos de Chávez e os EUA de "conspiração", e anunciou a expulsão de dois adidos americanos acusados de propagar rumores sobre a morte de Chávez e de "contatos não autorizados" com antigos militares venezuelanos, simpáticos ao regime anterior à revolução chavista.

VIDEO: MADURO ACUSA INIMIGOS DA REVOLUÇÃO CHAVISTA



Maduro ainda acusou os "inimigos" da revolução de terem provocado o cancer do Presidente venezuelano. Durante o tratamento Hugo Chávez chegou a dizer que o câncer, que atingiu cinco líderes sul-americanos – entre eles a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula, do Brasil, e a presidente da Argentina Cristina Kirschner – teria sido induzido pelos Estados Unidos. "Não seria estranho se tivessem desenvolvido uma tecnologia", disse.


Assim que foi anunciada a da morte de Chávez, as ruas da capital, Caracas, foram tomadas por pessoas chorando, abraçadas e a agitando bandeiras. O clima em Caracas já era de apreensão e silêncio, à espera dos acontecimentos - na véspera, um boletim médico pessimista havia relatado uma piora no seu estado de saúde.
O Governo decretou sete dias de luto nacional. O funeral de Chávez foi realizado na sexta-feira (8), na Academia Militar da Venezuela.

VIDEO: FUNERAL DE HUGO CHÁVEZ



Com a morte do Presidente, a Constituição da Venezuela prevê a realização de novas eleições no prazo de 30 dias. O vice Nicolás Maduro, de 50 anos, herdeiro político de Chávez, é apontado como candidato presidencial do partido governista – PSUV - e deve enfrentar o líder da oposição, Henrique Capriles, derrotado nas urnas em Outubro. Após o episódio, Capriles adotou um tom conciliador - falou em união nacional e solidariedade.

VIDEO: HENRIQUE CAPRILES SE SOLIDARIZA COM MORTE DE HUGO CHÁVEZ



Chávez não conseguiu tomar posse em 10 de janeiro de 2013, para um novo mandato que completaria 20 anos de chavismo. Após disputa judicial, a Assembleia Nacional concedeu ao presidente uma permissão indefinida de ausência do país para tratar a doença, em Cuba, enquanto o Tribunal Supremo autorizou que a posse fosse adiada para quando ele estivesse bem de saúde.

A LUTA CONTRA O CANCER

Há muito que se especulava sobre o estado de saúde de Hugo Chávez, numa batalha mediática que parecia não ter fim. O líder venezuelano sofria de cancer desde Junho de 2011 e foi sujeito a quatro cirurgias em Cuba.

VIDEO: HUGO CHÁVEZ ANUNCIA QUE TEM CANCER (em 30/ 06/ 2011)



Em junho de 2011 a imprensa da Venezuela noticiou que Chávez havia passado por uma cirurgia de emergência na região pélvica, em Cuba, mas o governo venezuelano negou que se tratasse de um tumor. No entanto, em 30 de junho o presidente confirmou o câncer. Em agosto de 2011, apareceu com o cabelo raspado: "É meu novo visual", disse. Em outubro do mesmo ano, o governante declarou-se livre do câncer.


Em fevereiro de 2012, Chávez foi operado novamente em Cuba e passou por radioterapia. Em julho, voltou a dizer que havia vencido a batalha contra o câncer, mas em novembro viajou a Cuba para receber terapia hiperbárica - um tratamento complementar para a radioterapia.


Em dezembro de 2012, Chávez anunciou sua volta à Cuba para uma nova cirurgia e designou o vice, Nicolás Maduro, como seu sucessor se não voltasse ao poder. Foi a primeira vez que Chávez admitiu, publicamente, que a doença poderia impedi-lo de seguir à frente do país.

VIDEO: ÚLTIMO PRONUNCIAMENTO DE CHÁVEZ NOMEIA SUCESSOR (em 08/12/2012)



Seu regresso à Venezuela em 18 de Fevereiro, depois de permanecer na ilha por dois meses, foi visto por alguns como sinal de melhora no estado de saúde e uma forma de tomar posse das eleições de Outubro de 2012. Mas outros analistas viram nesta viagem um sinal de que a doença ganhava a batalha.

BARACK OBAMA E DILMA ROUSSEFF

Após o anúncio da morte de Chávez, o presidente dos EUA, Barack Obama, divulgou nota dizendo que deseja um "novo relacionamento" construtivo com a Venezuela. A nota acrescenta que "quando a Venezuela começa um novo capítulo na sua história, os EUA permanecem empenhados em políticas que promovam os princípios democráticos, o Estado de direito e o respeito pelos direitos humanos". O Departamento de Estado manifestou apoio ao país na nova fase e disse que isso inclui a realização de eleições com "alto padrão democrático".

VIDEO: DILMA LAMENTA A MORTE DE HUGO CHÁVEZ



A Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, por seu lado, fala numa "perda irreparável", disse que a morte de Chávez "deve encher de tristeza todos os latino-americanos". Dilma Rousseff salientou que nem sempre esteve de acordo com Chávez, mas destacou que a preocupação dele sempre foi "o desenvolvimento do seu país e do continente".

TRAJETÓRIA

Hugo Rafael Chávez Frías nasceu em 28 de julho de 1954, em Sabaneta, no estado de Barinas. Filho de professores primários, ele casou e se divorciou por duas vezes. Tem quatro filhos – duas mulheres e um homem do primeiro matrimônio, e uma menina do segundo – e três netos. Militar reformado, Chávez tentou chegar ao poder pela primeira vez em 1992 através de uma tentativa fracassada de golpe de Estado que fez com que fosse preso por dois anos.


Chávez foi um dos mais destacados e controversos líderes da América Latina. Desde que assumiu o comando da Venezuela, promoveu mudanças à esquerda, na política e na economia. Venceu as primeiras eleições presidenciais em 1999, com a promessa de pôr fim à corrupção do governo e de distribuir a renda do petróleo entre os setores excluídos da sociedade. No final de 1999, alcançou o seu objetivo de mudar a carta magna da Venezuela e iniciar o que chamou de "Revolução Bolivariana".

DOCUMENTÁRIO: HUGO CHÁVEZ (em português)



Em 2002, já no comando do país, sofreu um golpe de Estado que o tirou do poder por quase 48 horas. Foi restituído por militares leais, com a mobilização de milhares de seguidores. Sua política externa foi marcada por críticas ao "imperialismo" dos Estados Unidos, país que ele acusou de ser responsável pelo breve golpe de 2002 e por questões que vão desde a mudança climática até uma suposta tentativa de assassiná-lo.


Na sua reeleição em 2006 (com 62% dos votos), declarou a transformação da Venezuela em um Estado socialista, iniciando seu projeto de estatização da maioria das empresas venezuelanas, em setores como telecomunicações e eletricidade. Iniciava-se também sua tentativa de reforma na Constituição, que permitira sua reeleição por tempo indefinido.


Em 2010, derrotado nas eleições legislativas - quando seu partido não conseguiu maioria na Assembleia – Chávez aprovou um dispositivo para governar por decretos de emergência.
A Venezuela entrou oficialmente no Mercosul em 13 de agosto de 2012, após Brasil, Argentina e Uruguai suspenderem o Paraguai do bloco como sanção pelo impeachment do presidente Fernando Lugo.

VIDEO: RODA VIVA COM HUGO CHÁVEZ (em15/03/2005)



Em 7 de outubro de 2012 Chávez garantiu novo mandato (com 54% dos votos) até 2019, prometendo "radicalizar" o programa socialista que vinha implantando no país. Durante a campanha, Chávez pediu a vitória para tornar "irreversível" o seu sistema socialista e acelerar o Estado comunista. Ele não hesitou em falar em uma “ameaça de guerra civil” caso o rival ganhasse as eleições.

VIDEO: CHAVISTAS CELEBRAM A VITÓRIA DA 'REVOLUÇÃO BOLIVARIANA’



Além de ser comandante-em-chefe das Forças Armadas e presidente do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), com maioria na Assembleia Nacional, Hugo Chávez também controlava a mídia estatal e era aficionado pela comunicação. Convocava constantemente a cadeia nacional de rádio e TV para longos discursos, além de comandar o programa "Alô, Presidente", onde discutia suas ideias políticas, entrevistava convidados, entregava obras públicas e até vendia eletrodomésticos chineses com preços subvencionados pelo governo.

VIDEO: FRAGMENTO DO PROGRAMA "ALO, PRESIDENTE", DE HUGO CHÁVEZ



Tornou-se também um grande usuário do Twitter, onde reunia milhares de seguidores. O último tweet de Chávez aconteceu no dia 18 de fevereiro: "Sigo aferrado a Cristo y confiado en mis médicos y enfermeras. Hasta la victoria siempre!! Viviremos y venceremos!!!"

POPULISMO

Hugo Chávez manteve-se no poder com uma política social que melhorou a educação e a saúde públicas, embora a pobreza, o desemprego e a violência tenham se espalhado pelo país. Era rejeitado pela classe média, afetada pelas restrições econômicas impostas em nome da revolução e por políticas de desapropriação de empresas privadas. Seu discurso beligerante polarizou a sociedade e eliminou o entendimento com a outra metade do país.


Durante sua gestão, Hugo Chávez reforçou a cooperação com seus aliados de esquerda na América Latina como Bolívia, Equador, Nicarágua, e estabeleceu parcerias com governos polêmicos como Irã, Síria, Belarus, Líbia, entre outros. Entretanto, continuou a vender, diariamente, um milhão de barris de petróleo para os Estados Unidos.
Com os "petrodólares", subsidiou a sua ‘Revolução Bolivariana’.

SOUTH OF THE BORDER

“South of the Border” é um filme do gênero documentário político, dirigido, escrito e produzido por Oliver Stone, que estreou no Festival de Veneza em 2009, fora do circuito oficial da competição pelo Leão de Ouro.


Para realizar o filme a Stone fez uma incursão pelos países latino-americanos governados pela esquerda, em especial a Venezuela. Viajou do Caribe até o sul da Cordilheira dos Andes, para tentar explicar o fenômeno que é Hugo Chávez na região e fazer um relato da recente guinada à esquerda na América Latina. O filme também tenta compreender a ‘Revolução Bolivariana’ de Chávez e o desenvolvimento social da região no século XXI.

“SOUTH OF THE BORDER” – FILME COMPLETO


O documentário examina as políticas econômicas de livre mercado historicamente impostas pelos Estados Unidos e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) na região, e como elas falharam em aliviar o problema crônico da desigualdade social na América Latina.
Além de Chávez, o presidente Lula também participa do documentário, assim como a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, da Bolívia, Evo Morales, do Paraguai, Fernando Lugo, do Equador, Rafael Correa e também o líder cubano Raúl Castro.


Questionado sobre o motivo que o levou a produzir o filme, Stone afirmou:
“Acho que o projeto começou a partir da demonização de líderes latinos pela mídia americana. E foi se tornando mais do que isso à medida que nos envolvíamos mais. A imprensa nos Estados Unidos dividiu o continente latino na "esquerda ruim" e na "esquerda boa". Acabaram de colocar Correa na esquerda ruim, junto com Morales e Chávez. Eles chamam Lula de esquerda boa. Não sei do que chamam a Kirchner ainda, mas acho que estão se virando contra ela mais e mais. Você fica com essa distinção, que acho que é falsa”.


O produtor de “South of the Border”, Fernando Sulichin, disse que o filme mostra Chávez “assim como ele é”. “É uma pessoa com uma visão histórica bastante importante”, disse. O roteirista, o historiador britânico de origem paquistanesa Tariq Ali definiu o projeto como "um road movie político".
O documentário teve uma recepção confusa. A revista Time o descreveu como "parcial" e o comparou às animadoras de torcida, além de dizer que apresentou uma visão pouco mundial.

DOCUMENTÁRIO: HUGO CHAVEZ (legendas em inglês)


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