11 julho 2013

RELÍQUIAS DE BRONZE ROUBADAS HÁ MAIS DE 150 ANOS VOLTAM À CHINA



Duas cabeças de animais em bronze que estavam entre os tesouros chineses saqueados de um palácio de Pequim por tropas francesas e britânicas há mais de um século e meio, em 1860, foram devolvidas no dia 28 de junho, sexta-feira, por um colecionador francês.

As esculturas - de um coelho e de um rato - integram um conjunto de 12 cabeças de animais que representam o zodíaco chinês e que faziam parte de uma fonte no Antigo Palácio de Verão, conhecido como Yuanmingyuan em chinês. Hoje o local é um parque que mantém as ruínas no lugar como lembrança dos saques cometidos por potências estrangeiras na China.

BACKGROUND: STOLEN CHINESE ARTIFACTS



O mistério do paradeiro das cabeças e os amplos esforços das autoridades chinesas de recuperá-las (entenda o caso clicando aqui) criaram uma mística ao redor dos artefatos. Até agora, sete das cabeças de animais chinesas foram encontradas e se encontram em museus em Pequim.



A família do bilionário francês e colecionador de arte François Pinault, amenizou uma ferida histórica ao devolver as cabeças de animais de bronze, que estavam entre os tesouros chineses saqueados durante a Segunda Guerra do Ópio.

DOAÇÃO DE PINAULT CHEGA À CHINA



Em comemoração à devolução das peças ao país, o Museu Nacional da China, na Praça da Paz Celestial, realizou uma cerimonia onde François Pinault e a vice-premiê chinesa Liu Yandong, puxaram as coberturas de seda vermelha sobre os pequenos bustos para exibi-los à imprensa.



Na ocasião o filho de François, François-Henri Pinault - executivo-chefe do grupo varejista de luxo Kering – declarou: "Ao devolver essas duas maravilhas para a China, minha família é leal a seu compromisso de preservar a herança nacional e a criação artística".

Em agradecimento, a vice-ministra chinesa da Cultura, Li Xiaojie declarou: "Esse gesto é uma expressão de profunda amizade com o povo chinês".

RELÍQUIAS CHINESAS ARRECADAM MILHÕES EM LEILÃO



A família Pinault comprou as cabeças de um colecionador particular, que as adquiriu no leilão do espólio do estilista Yves Saint Laurent por 14,9 milhões de euros cada, disse o jornal People's Daily no mesmo período.


07 julho 2013

‘WE THINK ALONE’: ARTE ON-LINE VAI ENVIAR E-MAILS ÍNTIMOS

A artista performática, escritora e cineasta norte-americana Miranda July acabou de lançar um projeto de arte on-line colaborativa, que acontece na caixa de entrada (inbox) de quem participar. De 1º de julho a 11 de novembro de 2013, ela propõe a experiência de receber e-mails pessoais de seus amigos e conhecidos.



A proposta surgiu quando July, uma voyeur assumida que sempre teve o hábito de pedir aos amigos que lhe enviasse mensagens endereçadas a outros destinatários, foi convidada pelo museu sueco Magasin 3, para transformar sua “curiosidade sem limites” em uma exposição.

Pensando na curiosidade sobre a vida do outro, a artista criou o projeto de arte “We Think Alone” (Nós Pensamos Sós), onde apresenta uma compilação de e-mails de gente pensante e interessante, sobre temas predeterminados. Mensagens antigas que trazem um pouco do íntimo dessas pessoas de forma divertida e transparente.



A obra é um trabalho colaborativo que, para existir, conta com a participação do público. Quem se cadastrar no site wethinkalone.com, receberá um e-mail a cada segunda-feira, durante cinco meses, com mensagens antigas e originalmente endereçadas a outros destinatários (que não têm seus nomes ou respostas revelados), escritas por dez artistas que vão de gente célebre, a estilistas e escritores.



Os autores dos e-mails são: Kareem Abdul-Jabbar – maior cestinha da NBA de todos os tempos, escritor e diretor de cinema americano; Lena Dunham – diretora americana, escritora e atriz por trás da série “Girls”; Kirsten Dunst – atriz americana; Sheila Heti – escritora canadense; Etgar Keret – escritor israelense; as irmãs Kate e Laura Mulleavy – estilistas americanas à frente da grife Rodarte; Catherine Opie – fotógrafa americana e professora de Arte da Universidade da Califórnia; Lee Smolin – físico teórico canadense-americano; e Danh Vo – artista contemporâneo dinamarquês-vietnamita



Todos eles cederam e-mails escritos bem antes do início do projeto, quando não sabiam que fariam parte de uma obra artística. Por isso Miranda informa que, provavelmente, o conteúdo será livre e genuíno, mas cuidadosamente selecionado pelos autores. Algumas das mensagens podem incluir anexos, como vídeos e fotos.



Os e-mails serão temáticos: July pediu aos participantes que fuçassem suas pastas de mensagens enviadas e encontrassem assuntos diferentes, pessoais ou não, para dividir com o público. Há desde textos sobre questões de dinheiro até e-mails agressivos passando por comentários sobre as mães dos artistas participantes.

“Eu sempre peço para meus amigos me encaminharem e-mails que eles mandaram para outras pessoas – para a mãe, o namorado, o agente – quanto mais mundano, melhor. O jeito que eles se comportam nos e-mails é tão íntimo, quase obsceno – um vislumbre do que eles são sob seu próprio ponto de vista”.



Kirsten Dunst (autora do primeiro e-mail, enviado no dia 1º de Julho) mostrou apenas o necessário, diferentemente da fotógrafa americana Catherine Opie, que escancarou questões afetivas. Segundo July, suas mensagens são as mais reveladoras. "Quando li tudo tive vontade de chorar, foi muito intenso."



“O projeto me deu a desculpa para ler os e-mails dos meus amigos e de pessoas que eu gostaria que fossem amigos e, para o bem ou para o mal, isso mudou a forma como vejo todos eles. Acho que agora eu realmente os conheço. Mas nossa vida interior não é, na verdade, como a vida no computador”.

Fascinada pela relação entre pessoas e tecnologia, July disse ter se surpreendido com sua reação diante do conteúdo de alguns recados. "Criei uma estranha intimidade com pessoas que nem conheço. Não conseguia dormir, preocupada com a possibilidade de acabar com a carreira de famosos", afirma.



‘We Think Alone’ expõe a intimidade alheia e leva à reflexão sobre linguagem, privacidade, tecnologia e contato humano - questões fundamentais na atualidade pós-moderna - atribuída à comunicação eletrônica. Um modo inovador de abordar o voyeurismo e a controvérsia das relações pessoais na comunicação eletrônica.

A ideia é que uma pessoa qualquer, em qualquer lugar, entre em contato com pequenas revelações de outra pessoa qualquer, de qualquer outro lugar. É simples, mas repleto de significação. Neste espaço comum, mas sob sigilo, e-mails se tornam auto-retratos marcantes.



Miranda July é mais conhecida por escrever, dirigir e estrelar o filme "Me and You and Everyone We Know", de 2005, com o qual levou o prêmio de melhor diretora estreante no Festival de Cannes, e "The Future", de 2011. Mas ela também é famosa por seus projetos coletivos.

Video



Em 2010, o SFMOMA (San Francisco Museum of Modern Art) comprou sua arte on-line que durou sete anos, "Learning to Love You More" (Para Aprender a Amar-se Mais, 2002), na qual Miranda criava tarefas como "Make an encouraging banner" (Faça um banner encorajador) e "Make a field guide to your yard” (Faça um guia de campo para o seu quintal). O projeto resultou na adesão de milhares de usuários que participavam fazendo e registrando, em vídeos e fotos, as tarefas indicadas em um site.

19 junho 2013

ESPANHOL É AMEAÇADO DE MORTE POR INVENTAR UMA LÂMPADA QUE DURA 100 ANOS

Fonte: Época Negocios (10/06/2013)



Uma lâmpada fluorescente dura cerca de 10 mil horas. São mais de 416 dias de uso direto, pouco mais de um ano. Bastante tempo. No entanto, o espanhol Benito Muros diz ter criado uma lâmpada que dura 100 anos (no video abaixo) e que está sendo ameaçado de morte por causa de sua criação.



Muros é o presidente de um movimento chamando ‘Sem Obsolescência Programada’ (SOP) e diz que, não só lâmpadas, mas muitos outros objetos de nosso dia a dia poderiam durar muito mais. Para ele, algumas peças essenciais para eletrodomésticos, por exemplo, são colocadas propositalmente próximas das partes que mais aquecem no objeto, diminuindo seu tempo de vida. Soma-se a isso, o uso de materiais de menor qualidade.



Na verdade, existe uma teoria - a da Obsolescência Programada - de que muitos fabricantes desenvolvem produtos de curta durabilidade para obrigar os consumidores a adquirir novos produtos de forma acelerada e sem uma necessidade real (acima). Segundo o espanhol, fazem parte dessa lista de itens como baterias de celular, computadores, geladeiras e televisões.



As lâmpadas e a causa de Muros e da SOP querem desenvolver um novo conceito empresarial, baseado no desenvolvimento de produtos que não caduquem. Além de terem mais tempo de vida, as lâmpadas desenvolvidas com a Oep Electrics, gastam 70% menos energia que as fluorescentes, e não queimam ao ser acesas e apagadas várias vezes seguidas. A OEP garante dez mil comutações diárias.

OBSOLESCENCIA PROGRAMADA: ENTREVISTA A BENITO MUROS, CREADOR MOVIMIENTO S.O.P.



"Hoje, por exemplo, temos uma lâmpada que está acesa a 111 anos em um parque de bombeiros de Livermore [California]. Foi então que surgiu a ideia de criar, junto com outros engenheiros, uma linha de iluminação que dure toda a vida”, disse ele à publicação.



No entanto, Muros diz que a descoberta também gerou ameaças. O espanhol chegou a apresentar um recado à polícia que dizia: "senhor Muros, você não pode colocar seus sistemas de iluminação no mercado. Você e sua família serão aniquilados”. Apesar disso, ele conta que não se sentiu ameaçado e que irá continuar defendendo a SOP.

13 junho 2013

“OCEAN CLEANUP ARRAY”: ESTUDANTE DE 19 ANOS CRIA UMA MÁQUINA PARA LIMPAR O PLÁSTICO DOS OCEANOS



Milhões de toneladas de detritos de plástico estão poluindo os oceanos de forma definitiva. Os resíduos atingem os mares por terra, principalmente através de rios e canais e, em seguida, se acumulam em cinco áreas espalhadas pelos oceanos, chamadas ‘giro’ - local onde as correntes oceânicas circulam mais lentamente devido aos poucos ventos e aos sistemas de pressão extremamente altos, que estariam ‘segurando o lixo’ e criando um acúmulo de plástico, apelidado de 'Garbage Patches'.

VIDEO: SOPA PLÁSTICA, O LIXÃO DO OCEANO PACÍFICO (GLOBO - FANTÁSTICO)



O problema não só a questão da exterminação direta de centenas de milhares ou mesmo milhões de animais aquáticos anualmente, mas principalmente porque o plástico serve como um meio de transporte para poluentes (incluindo PCB e DDT), e a sua contaminação pode se espalhar por algas nocivas e outras espécies invasivas, acumulando-se na cadeia alimentar.



A poluição por plástico custa, para o governo, empresas e indivíduos, milhões de dólares em prejuízos por ano, devido à perda do turismo, aos danos com transportes marítimos e na limpeza (ineficiente) das praias. A solução definitiva para esta mazela é clara: parar de consumir itens com embalagens descartáveis de plástico, gerir adequadamente a emissão mundial de resíduos no mar, e nos conscientizar dos problemas que o lixo cria. E isso requer mudanças dramáticas na legislação, em todos os níveis.



No entanto, mesmo assim é preciso retirar o que já está nos oceanos, e para isto vamos precisar de uma combinação de ambos os mundos (conscientização e legislação) muito em breve.

VIDEO: CAPITÃO CHARLES MOORE FALA SOBRE OS OCEANOS DE PLÁSTICO



“OCEAN CLEANUP ARRAY”

Em 2011, juntamente com o amigo Tan Nguyen, o holandês Boyan Slat, estudante de engenharia, começou a escrever sua dissertação final no último ano do ensino secundário, pesquisando a possibilidade de remediar as ‘manchas’ de lixo oceânico espalhadas pelo planeta.



Investindo mais de 500 horas de trabalho (em vez das 80 horas necessárias), o estudo ganhou vários prêmios, incluindo o de ‘Melhor Desenho Técnico de 2012’ na Delft University of Technology. Boyan continuou o desenvolvimento do seu conceito durante o verão de 2012, e o revelou, alguns meses mais tarde, no TEDxDelft 2012.

VIDEO: BOYAN SLAT EXPLICA SEU INVENTO (ative a legenda)



Boyan Slat desenvolveu o projeto de uma máquina chamada “Ocean Cleanup Array”, que atuaria como um gigantesco filtro com capacidade de retirar mais de 7 milhões de toneladas de plástico flutuante dos oceanos, em um período de 5 anos por giro, eliminando inclusive a área mais atingida, conhecida como "Giro do Pacífico Norte" (veja mais clicando aqui).



A estratégia do ‘Ocean Cleanup Array’ é utilizar o movimento do plástico no mar em vantagem própria. Mover-se através dos oceanos para recolher o plástico seria caro, desajeitado e poluente, e resultaria em enormes quantidades de equipamentos para a sua captura. Então o melhor a fazer é deixar as correntes rotativas transportar os detritos até o dispositivo.



A estrutura seria posicionada nos pontos de concentração de lixo – giros - e seria capaz de retirar todo o material flutuante. A matriz de limpeza do oceano seria localizada paralelamente às rotas de navegação, evitando obstruir o transito de embarcações - a maioria dos giros está localizada em áreas pouco percorridas e a matriz de limpeza do Oceano terá de ser mapeada.



Com o ‘Ocean Cleanup Array’, um conjunto de barras flutuantes ancoradas em plataformas de processamento mediria o raio de cada giro, atuando como um ‘funil’ gigante em que o ângulo da sua posição criaria um ‘sugadouro’. Em seguida, os resíduos entram nas plataformas, para serem filtrados e armazenados até a sua recolha para reciclagem em terra.





Ao utilizar dispositivos flutuantes ao invéz de redes, áreas muito maiores seriam cobertas. Além disso, há uma enorme variedade de tamanhos de detritos. A ausência de redes - junto a sua baixa velocidade - significa que mesmo as menores partículas são desviadas e extraídas.



Uma das vantagens mais significativas do uso de barras flutuantes ao invéz de redes é que a vida marinha não pode ser pega nelas - as espécies planctônicas poderão se mover sob as barras, juntamente com o fluxo de água. O transporte dos detritos ao longo das barras é conduzido pelas correntes, e lento o suficiente para que os organismos possam escapar.



Também, as plataformas serão completamente auto-sustentáveis, recebendo a sua energia a partir do sol, das correntes e ondas. Além disso, deixando as ‘asas’ (barras) das plataformas balançar como as de uma arraia real é possível garantir o seu contato com a superfície, mesmo no clima mais áspero.

VIDEO: ESTUDANTE DE 21 ANOS CRIA DISPOSITIVO PARA LIMPAR OS OCEANOS



POTENCIAL LUCRATIVO

As vantagens financeiras podem melhorar muito as chances de a execução do projeto. De acordo com estimativas atuais - devido à eficiência sem precedentes do plano - os benefícios da reciclagem superam significativamente os custos da execução do projeto. Este conceito é tão eficiente, que a venda do plástico recolhido nos oceanos geraria, de fato, mais dinheiro que o custo da execução do plano, tornando o projeto potencialmente lucrativo.

VIDEO: ILHA FEITA DE PLÁSTICO RECICLADO DO OCEANO



A ilha reciclada é uma proposta para reutilizar o lixo plástico no Giro do Pacífico Norte na construção de um novo habitat flutuante. O vídeo apresenta o conceito de design para a reciclagem. (www.recycledisland.com)

Apesar da qualidade do plástico ser um pouco menor do que o plástico regular reciclado ele pode, por exemplo, ser misturado a outros materiais plásticos para produzir produtos de alta qualidade. Além disso, sua comercialização através da marca ‘Ocean Plastics’ pode aumentar ainda mais o valor do plástico e criar uma consciência com o consumidor.



VIABILIDADE

Atualmente, apenas ¼ do estudo de viabilidade foi realizado. Embora os resultados preliminares pareçam promissores, e a equipe - com cerca de 50 engenheiros, modeladores, peritos externos e estudantes - esteja fazendo um bom progresso, ainda não existe a intenção de apresentar o conceito como uma solução, porque ele está em fase de investigação. O projeto está realizando um amplo estudo de viabilidade nas áreas da engenharia, oceanografia, economia, reciclagem, direito marítimo e muito mais. O resultado do estudo será publicado on-line (http://www.boyanslat.com/) ao longo do tempo.

DOCUMENTÁRIO LEGENDADO: ADDICTED TO PLASTIC - 2008



O ‘Ocean Cleanup Array’ não é a solução não é perfeita. Apesar da capacidade de recuperar bilhões de quilos de plástico dos oceanos, isto não corresponderia aos 100% dos detritos que estão nos oceanos do planeta. É preciso enfatizar a importância da reciclagem e da redução do consumo de produtos com embalagens plásticas. Além disso, através do desenvolvimento de sistemas que vão interceptar o plástico antes de atingir o mar, espera-se reduzir ainda mais o impacto do plástico nos oceanos.

DOCUMENTÁRIO COMPLETO: PLASTICIZED



PLASTICIZED é um relato íntimo da primeira expedição científica realizada pelo Instituto “5 Gyres”, através do centro do Oceano Atlântico Sul, com foco em resíduos de plástico. Uma história reveladora sobre a missão do instituto global para estudar os efeitos, a realidade e a escala de poluição de plástico em todo o mundo.

20 maio 2013

ARQUITETURA: GALLERIA UMBERTO I


Foto original do Crystal Palace, erguido no Hyde Park para a Grande Exposição de 1851

Os primeiros resultados arquitetônicos da ‘Revolução Industrial’ surgiram na Inglaterra, em meados do século 19: o Crystal Palace, de 1851, por Joseph Paxton, e o Museu Oxford, de1859, por Deane e Woodward. Ao utilizar o ferro esses arquitetos influenciaram o olhar vitoriano, que percebia este material como fonte de poder da sociedade moderna, mas que dificilmente o via como recurso para a Arquitetura.


Interior do museu da Universidade de Oxford

Extravagantes cúpulas abobadadas de vidro e ferro, que seguiam a nova estética revolucionária da arquitetura, caracterizaram uma série de estruturas construídas na Europa nas últimas décadas do século XIX. O exemplo mais proeminente em Nápoles, no sul da Itália, é a Galleria Umberto I.



Projetada com a intenção de ser uma obra monumental em si, como as outras ao redor (Maschio Angioino, Real Teatro San Carlo, Palazzo Reale, Basilica di San Francesco Di Paola), a Galleria Umberto I é um grande centro comercial coberto por uma estrutura abobadada de ferro e vidro, nomeada em homenagem ao Rei que governou a Itália entre 1878 a 1900. A sua construção, entre 1887 e 1890, foi o marco durante a reconstrução de Nápoles – período conhecido como “Risanamento” - que durou até a Primeira Guerra Mundial I.



Ela foi projetada por Emanuele Rocco, que empregou elementos arquitetônicos modernos que remetem à Galleria Vittorio Emanuele II, em Milão, concluída em 1865. O espaço da galeria, alto e amplo, tem o formato de cruz, com um belo mosaico dos signos zodíaco na área central do piso, abaixo da sua cúpula com 184 pés (56 metros) de altura, apoiada em 16 costelas (tipo de suporte) de metal.



Das quatro entradas nas extremidades das asas cobertas de vidro, uma se abre para a Via Toledo (via Roma) - ainda a principal via do centro - e outra para o Teatro di San Carlo, enquadrado como um esplêndido cenário pelos portais da galeria. Outras duas saídas 'menores', são abertas para duas ruas laterais que rodeiam o shopping.



A Galleria Umberto I, construída para estimular o comércio e para ser um símbolo do renascimento de uma cidade, era uma fusão mais estética do vidro e do metal industrial na cobertura e da alvenaria da parte inferior que, em si, é uma colagem espectacular da Renassença e da ornamentação barroca, atenuada pela suavidade do mármore polido no piso do saguão térreo.



Sua concepção foi elaborada para combinar o espaço público com o espaço privado. No seu interior, estruturado em três andares, os dois primeiros pisos são utilizados quase exclusivamente para as atividades comerciais na galeria (lojas de calçada, como café e sorvete, assim como lojas de presentes, moda, tabacaria, livrarias, além de um banco ou dois), enquanto o piso superior se destina a residências e a um hotel privado.



Graças a uma localização privilegiada - rodeada pelas Via Toledo, Via Santa Brigida e não muito longe, a Via Medina - e sua proximidade com importantes locais de cultura e política, a Galeria logo se tornou um centro social da cidade. Uma vez que abrigou um teatro e restaurantes, foi o ponto de encontro da burguesia napolitana.



Seu teatro foi o lendário Salone Margherita, localizado abaixo do saguão principal, com acesso por uma escada interna ou por uma entrada separada, que dá para o lado de fora, no nível da rua. Ele foi fechado por muitos anos e, atualmente, foi restaurado e funciona plenamente.



HISTÓRIA

A área que a galeria ocupa já era intensamente urbanizada no século XVI e se caracterizava por um labirinto de ruas paralelas entremeadas por uma rede de vielas estreitas e curtas - com varais estendidos de um lado para o outro - que, da via Toledo, desembocava em frente ao Castel Nuovo. Esses becos eram conhecidos pelas suas tabernas, casas de má reputação e bêbados, onde ocorriam crimes de todos os tipos.



A fama adquirida pela área ao longo dos séculos foi mantida até a segunda metade do século XIX. Na década de 1880 a degradação chegou a extremos: o nível de higiene era pobre e, entre 1835 e 1884, ocorreram nove surtos de cólera nesta área. Sob a pressão da opinião pública, após a epidemia de 1884, começou a se considerar a intervenção do governo. Em 1885 foi aprovada a Lei para a restauração da cidade de Nápoles.


Mapa de Nápoles, 1884

Este período caótico na história da cidade é conhecido como “Risanamento” (que significa "tornar saudável novamente"), e a idéia por trás do projeto era sanear grande parte da cidade de Nápoles - que, durante séculos, tinha sido foco de doença e superlotação - para, em seguida, dar início a uma construção racional. A Galleria Umberto foi um bom exemplo da cidade tentando se reinventar.



Havia a necessidade de renovar a área conhecida como Santa Brigida, e quatro projetos foram apresentados. O arquiteto Emanuele Rocco apresentou um plano de renovação urbana que preservava uma série de edifícios históricos, no local em que outros seriam demolidos para dar espaço à construção do enorme um centro comercial em forma de cruz, alto e espaçoso - um caso verdadeiramente catedralesco - encimado por uma grande cúpula de vidro.



A Galleria Umberto I, desde a sua construção, se tornou imediatamente um centro comercial fundamental da cidade de Nápoles.

DOCUMENTÁRIO COMPLETO: EMMANUELLE ROCCO - LA GALLERIA UMBERTO I



DESCRIÇÃO EXTERNA

Em um inventivo e desproporcionado uso de vidro e ferro na cobertura, típico da extravagância italiana e européia, a Galleria Umberto I tem a sua entrada principal voltada para a Via San Carlo. Sua fachada semicircular, sustentada por colunas de mármore travertino, possui um pórtico central arqueado para o acesso direto à galeria, e dois arcos laterais que se abrem para o ambulacro - corredor externo que contorna a fachada.



Acima, segue um conjunto de janelas serlianas - com o arco sustentado por pares de colunas com capitel – e mais acima uma segunda sequência com janelas de arco duplo e colunas, semelhantes às anteriores. A cobertura possui pares de janelas quadradas entre pilastras toscanas e placas adornadas com relevo em estuque. As últimas janelas, entre cada sequência, são sobresaltadas sobre os arcos laterais de acesso à galeria.



As colunas do arco da direita mostram figuras que representam as quatro estações do ano, o Inverno, Primavera, Verão e Outono, que estão ligadas ao desdobramento do tempo e às atividades humanas para o trabalho e o gênio científico. As colunas do arco da esquerda mostram os quatro continentes, Europa, Ásia, África e América.



No frontão, figuras que representam o Comércio e a Indústria ladeiam a figura da riqueza reclinada, mitos da sociedade burguesa. Nos nichos opostos estão representados, à esquerda, a Física e, á direita, a Química.



Deitados no topo do edifício, acima do pórtico, estão as figuras do Telégrafo, à direita, e do Vapor, à esquerda, ladeando a Abundância. Esta representação apresenta uma imagem positiva da ciência e do progresso, capaz de unificar as diferentes partes do mundo. No telhado com varanda, uma série divindades clássicas podem ser observadas sobre a balaustrada. Os deuses retratados são Diana, Cronus, Vênus, Júpiter, Mercúrio e Juno.



As fachadas menores têm uma estrutura semelhante, mas apresentam apenas decoração em estuque. A fachada da Via Toledo traz, na entrada lateral, pares de estatuetas ‘putti’ (figura de criança) ladeando escudos com a heráldica (emblemas de brasão) de duas das sedes de Nápoles: os ‘Capuana’, com um cavalo caído, à direita, e os ‘Portanova’, com uma porta, à esquerda.



A fachada da Via Santa Brigida, apresenta escudos com a heráldica da sede dos ‘Porto’, com um marinheiro, à esquerda, e dos ‘Montagna’, com um monte, à direita. Ladeando o arco estão dois painéis alusivos à guerra e à paz.



Na fachada da Via Verdi, os escudos trazem os emblemas da sede dos ‘Nido’, com um cavalo desenfreado, à esquerda, e dos ‘Popolo’, com a letra P, à direita. Ladeando o arco estão dois painéis alusivos à abundância e à riqueza, caracterizados pelo cultivo da terra e do exercício da navegação.

DESCRIÇÃO INTERNA



O interior da galeria é formado por duas vias que se interceptam ortogonalmente, cobertas por uma estrutura abobadada de ferro e vidro, com uma cúpula ao centro, delimitada por alguns edifícios, quatro deles com acesso ao octógono central.



As fachadas internas refletem o principio da obra: o andar térreo é dividido por grandes pilastras lisas, pintadas de mármore falso que emolduram a entrada das lojas e mezaninos sobrejacentes. Logo acima, está uma sequência de janelas serlianas, depois as janelas em arco duplo e pilastras e finalmente, no ático, os pares de janelas quadradas.



A cobertura em ferro e vidro, projetado por Paolo Boubée, consegue se harmonizar perfeitamente com a estrutura de tijolos, o que contribui para a relação estreita entre as estruturas de suporte em alvenaria e as de ferro.



Quatro grandes áreas de ventilação estão localizadas nas extremidades dos corredores, suportando cenas em estuque complexas, tudo em conexão com a música.



Nos oito pendentes de sustentação da cúpula central, estão apoiadas oito figuras femininas aladas de cobre, que apoiam o lampadário. No tambor da cúpula (conexão arquitetônica posicionada logo abaixo da própria cúpula), decorada com janelas semicirculares, pode der vista a estrela de David, repetida em todas as quatro janelas. A razão para a sua presença é, aparentemente, desconhecida.



Na área central do piso da galeria, abaixo da cúpula, está um trabalho em mosaico representando os signos do zodíaco, assinados pela empresa Padoan de Veneza, que os criou, em 1952, para substituir os originais danificados pela guerra. Os bombardeios também resultaram na destruição de toda a cobertura de vidro.



Nas entradas estão localizados bustos e placas comemorativas em memória dos desaparecidos locais e daqueles que participaram da realização do trabalho. No corredor em direção a Via Verdi está uma inscrição que lembra a pousada Moriconi, que em 1787 hospedou Goethe. Entrando pelo lado oposto do Teatro di San Carlo, está uma placa dedicada a Paul Boubée.


Salone Margherita

No andar abaixo da galeria (subsolo) o traçado da galeria se repete em outro cruzeiro, de dimensão menor, e já abrigou restaurantes, casas de jogos e um teatro da Belle Époque no largo central, abaixo da cúpula. O teatro “Salone Margherita” foi a sede principal do entretenimento noturno dos napolitanos por mais de 20 anos, acolhendo várias personalidades de importância nacional.


Museu do Coral

O segundo andar tem grande parte ocupada pelo museu do coral e do seu balcão, sustentado pela famosa escultura em mármore de Carlo Nicoli, quase se pode tocar o relevo de estuque na fachada do Teatro di San Carlo.

HOJE

O destino da Galleria Umberto passou a ser uma espécie de metáfora de Nápoles, refletindo os períodos de esplendor, bem como os de decadência. Em seu auge, a Galleria Umberto I representava a "nova Nápoles" que tentava se reerguer de um período sombrio, após uma epidemia de cólera em massa no início da década de 1880.


Detalhe do acesso de um dos edifícios ao octógono central

Entre seus muitos altos e baixos, a galeria foi alvo de bombardeios aéreos por um dirigível na Primeira Guerra Mundial, mas voltou a ser um centro ativo da vida cívica napolitana, após anos de decadência. Recentemente, o interior do edifício foi objeto de uma restauração que trouxe de volta o aspecto original das muitas esculturas, bustos e das características da decoração Art Nouveau.



A Galleria Umberto I tem resistido à passagem do tempo muito bem. E mesmo hoje, não parece fora de lugar no centro lotado da cidade de Nápoles. O espaçoso centro da galeria abriga concertos, exposições de arte e desfiles de moda. Durante as férias de Natal exibe uma árvore de Natal com 25 pés de altura, construída para que todos possam apreciar. Pequenos toques para garantir que a galeria continue a atrair o público, por um longo tempo.