05 fevereiro 2012

CINEMA UNDERGROUND: KENNETH ANGER


Kenneth Wilbur Anglemeyer (1927), ou Kenneth Anger, é um cineasta, autor e ator underground, marginal por excelência, conhecido por seus filmes experimentais, sem apêlo comercial. Ele se especializou em curta metragem e realizou, desde 1937, mais de quarenta filmes, ganhanhando a fama de ser um dos mais influentes cineastas independentes na história do cinema.
Realizou seu primeiro filme aos 9 anos, ‘Who’s Been Rocking my Dreamboat?’, do qual não restam vestígios, mas ficou conhecido com ‘Fireworks’, rodado em 1947, quando tinha cerca de 20 anos, e ainda freqüentava o curso de cinema da University of Southern California.


Anger descreveu a si mesmo como sendo um dos primeiros cineastas homossexuais dos Estados Unidos e, certamente, o primeiro a trabalhar com a homossexualidade de forma aberta. ‘Fireworks’ (1947) e ‘Scorpio Rising’ (1964), foram produzidos em função da legalização da homossexualidade nos Estados Unidos. Ele também se concentrou em temas do ocultismo, como nos filmes ‘Inauguration of the Pleasure Dome’ (1954), ‘Invocation of My Demon Brother’ (1969) e, principalmente, ‘Lucifer Rising’ (1972).


Durante os anos 60 e 70, o cineasta conviveu com diversas celebridades da cultura popular e do ocultismo, incluindo Anton LaVey (o fundador da Igreja de Satã), o sexologista Alfred Kinsey, o artista Jean Cocteau, o roteirista Tennessee Williams e músicos como Mick Jagger, Keith Richards, Jimmy Page e Marianne Faithfull.
Kenneth Anger é também o autor do controverso best-seller ‘Hollywood Babylon’ (1959) e sua sequência ‘Hollywood Babylon II’ (1986), onde expõe segredos de Hollywood.

FILMOGRAFIA CLÁSSICA


Kenneth Anger, introduziu o homoerotismo sadomasoquista em ‘Fireworks' (1947), onde ele mesmo interpretou o jovem tímido que, ao pedir fogo a um marinheiro musculoso, é espancado, tem o peito rasgado, as vísceras arrrancadas, e que culmina num fálico fogo-de-artifício. Neste curta-metragem em preto e branco, já é visível a sobreposição de elementos e o seu fascínio por uniformes.
Em 1949, ‘Fireworks’ foi premiado no Festival du Film Maudit de Biarritz, presidido por Jean Cocteau. Ali, já era possível perceber algumas das características de sua ótica: mistura de erotismo, surrealismo, documentário, ocultismo, cores, tempos, psicodrama e espetáculo.

FIREWORKS (1947)



Em1949 Anger começou a trabalhar no curta-metragem ‘Puce Moment’, filmado a cores. Por falta de financiamento o filme foi reduzido a seis minutos, inspirados no glamour das atrizes da década de 1920, numa sequência de imagens ostensivas e voluptuosas. Nesse mesmo ano, realizou ‘The Love that Whirls’, um filme baseado nos sacrifícios humanos astecas que, pela obscenidade exagerada, foi destruído pelos próprios técnicos do laboratório onde era processado.

PUCE MOMENT (1949)



A partir de 1950, Kenneth começou a ganhar notoriedade com um conjunto de filmes que exploravam um tom agressivo e perturbador, afastado das convenções sociais, estéticas e éticas, numa espécie de poesia visual quase sempre abstrata.
Em 1953, filmou ‘Eaux d'Artifice’ na Itália, uma das suas obras mais exuberantes e convidativas e, talvez, a mais abstrata. O filme consiste numa sequência de imagens de água, em torno da qual se movimenta uma figura de gênero indefinido.
Na sequência da morte da sua mãe, Anger regressou temporariamente a Hollywood, tendo então realizado uma das suas obras mais aclamadas, o épico psicodélico ‘Inauguration of the Pleasure Dome’ (1954).

INAUGURATION OF THE PLEASURE DOME (1954)

PARTE 1


Em ‘Scorpio Rising’ (1964), Anger documentou a vida e os sonhos de uma máfia de motociclistas de Coney Island, mostrando a simbologia de seu culto: imagens de comerciais de TV, brinquedos de corda, jóias falsas, máscaras, cartazes de Marlon Brando e James Dean, suásticas, caveiras e um Cristo hollywoodiano, tudo entremeado com cenas caseiras de uma festa.

SCORPIO RISING (1964)



A seguir produziu ‘Kustom Kar Kommandos’ (1965) - uma visão onírica do fenômeno adolescente americano (principalmente na Califórnia) do mundo dos carros modificados - os ‘hot rods’. Planejado originalmente para ser um filme de trinta minutos e oito partes, foi reduzido a um fragmento com três minutos, mais uma vez, por problemas de financiamento.

KUSTOM KAR KOMMANDOS (1965)



Entre os finais dos anos 1960 e 1980, o cineasta trabalhou em ‘Lucifer Rising’, o seu projeto mais complexo, ambicioso e problemático. Anger escolheu Bobby Beausoleil, um jovem que, em 1966, era guitarrista dos Love, para o papel de Lúcifer, mas em 1967 Beausoleil (que, mais tarde, se envolveu com Charles Manson e hoje cumpre prisão perpétua) roubou grande parte do material filmado. Isto levou Anger a publicar, em Outubro de 1967, um artigo que anunciava a sua morte como cineasta, e precipitou a sua ida para Londres.

LUCIFER RISING (1973)



No ambiente Londrino, onde estabeleceu amizade com Mick Jagger e Keith Richards, Anger sentiu de novo o apelo do cinema e, com partes do que teria sido a primeira versão de ‘Lucifer Rising’, decidiu produzir um novo filme, intitulado ‘Invocation of My Demon Brother’ – um curta de 12 minutos, com a música hipnótica de Mick Jagger.

INVOCATION OF MY DEMON BROTHER (1969)




FILMOGRAFIA RECENTE


Durante cerca de vinte anos, entre o princípio dos anos 1980 e os finais da década de 1990, Anger não lançou qualquer filme, dedicando-se, sobretudo, à escrita e à preservação do seu patrimônio cinematográfico.

No início do século 21 Anger volta à ativa com ‘Don't Smoke That Cigarette!’ (2000). Dois anos depois, surge ‘The Man We Want to Hang’, um curta-metragem que documenta uma exposição do artista Aleister Crowley na October Gallery de Londres.
Em 2004 acontece ‘Anger Sees Red’. No mesmo ano surgiu ‘Patriotic Penis’ e, no ano seguinte (2005), ‘Mouse Heaven’, uma montagem feita a partir de memorabilia de Mickey Mouse, um dos símbolos mais perenes da cultura popular norte-americana.

THE MAN WE WANT TO HANG (2002)



Em 2007, realizou três filmes: ‘Elliott's Suicide’, uma homenagem ao músico Elliott Smith, amigo e vizinho, ‘I'll Be Watching You’, um encontro sexual captado por uma câmara de vigilância, e ‘My Surfing Lucifer’, um tributo a Bunker Spreckels (1949-1977), famoso surfista e playboy norte-americano que herdou cinqüenta milhões de dólares quando tinha apenas vinte e um anos de idade, acabando por sucumbir a uma vida excessos.

Das obras mais recentes, destacam-se ‘Foreplay’ (2008), ‘Ich Will!’ (2008), ‘Brush of Baphomet’ (2009) e ‘Uniform Attraction’ (2009). ‘Foreplay’ é uma espécie de versão minimalista e homoerótica de ‘Zidane, un Portrait du 21e Siècle’ (Philippe Parreno e Douglas Gordon, 2006) que mostra o treino de um grupo de jogadores de futebol amadores. ‘Ich Will’ consiste numa montagem feita a partir de material de arquivo sobre a Juventude Hitleriana. ‘Brush of Baphomet’ é outra incursão de Anger à arte de Aleister Crowley, desta vez sobre as pinturas encontradas na Abadia de Thelema, em Cefalú, na Sicília. ‘Uniform Attraction’ é um estudo sobre a força simbólica dos uniformes militares.

DOCUMENTÁRIO COMPLETO: KENNTH ANGER'S HOLLYWOOD BABYLON


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